Renato Kramer

'Acho um absurdo como são tratados no Brasil', diz o ex-'melhor hacker do Brasil'

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Daniel Nascimento, que em 2005 fora pego na Operação Ponto Com da Polícia Federal por formação de quadrilha, entre outros, foi entrevistado pelo "The Noite" (SBT) nesta sexta-feira (20).

Aos 15 anos de idade Nascimento foi considerado o "melhor hacker do Brasil". Ele conta toda a sua trajetória no livro "DN pontocom - A Vida Secreta e Glamourosa de Um Ex-Hacker" (Idea Editora). No "The Noite", Daniel deu algumas dicas sobre o mundo virtual.

"Como eu faço para me precaver?", perguntou Danilo Gentili sobre eventuais ataques virtuais. "Atualize o seu antivirus, não acesse sites pornográficos", respondeu Nascimento. "Antivirus funciona mesmo?", questionou o apresentador. "Olha, Danilo, não!". A plateia ri.

"Tem muito vírus malicioso em site pornográfico? É o lugar mais perigoso para entrar?", indagou Gentili. "É porque tem muito acesso e uma estrutura mais frágil. Porque o desenvolvedor de um site pornográfico não está preocupado com segurança. Ele quer que as pessoas assistam a sacanagem! Então não é um sistema seguro", responde Daniel. "As pessoas também querem assistir sacanagem", afirma Danilo. "Pois é, é a lei da vida!", conclui o convidado.

"Só de navegar pela internet dá para pegar algum vírus ou você precisa aceitar algum arquivo, abrir algum arquivo?", quis saber Danilo. "Não necessariamente", retrucou Daniel. "Só de entrar num site posso pegar um vírus, isso acontece?". "Acontece. Existem vírus 'auto-infects' – vírus instalados no site e quando a vítima entra no site ela se auto infecta", informa o ex-hacker.

Crédito: Reprodução Entrevista de Danilo Gentili com Daniel Nascimento no "The Noite"
Entrevista de Danilo Gentili com Daniel Nascimento no "The Noite"

Quanto à vulnerabilidade do smartphone, Daniel afirma ser tal qual a do desktop. E faz uma ressalva: "Para haver uma evolução no quesito segurança no Brasil, tem que haver uma mudança cultural do usuário também. A palavra 'hacker' não pode mais ser tão assustadora como ela é". "Eu acho o 'maior legal', não me assusta —eu queria ser hacker. A maioria das pessoas queriam ser hackers, você não acha?", interfere o apresentador.

"Eu gostaria... Gostaria, pratiquei e fui!", declara Daniel. "Você acha que as pessoas têm medo de hackers?", cutuca Danilo. "Então, é até uma certa hipocrisia, os hackers têm vergonha de dizer que são hackers porque são julgados pela sociedade. Então tem que ter um amparo para isso. Tem que trazer esse cara para sociedade para evoluir junto com a sociedade. Eu acho um absurdo como o hacker é tratado no Brasil", desabafa Nascimento.

E acrescenta: "Eu não vejo ninguém discutir a segurança da informação, eu não vejo ninguém preocupado se os nossos sistemas públicos estão prontos para um ataque internacional". "E estão?", aproveita Danilo. "Com certeza não", responde Daniel sem titubear. "Nós não temos hackers hoje trabalhando para a evolução disso. Nós temos programadores. O hacker destrói, o programador cria. Se você juntar os dois, você tem um sistema mais perfeito".

"Qual o procedimento básico para quem está nos assistindo agora para evitar ser vítima de ataque de hacker?", perguntou Gentili. Daniel responde chamando a atenção para um novo tipo de golpe virtual: "Existe um vírus malicioso hoje que altera o código de barras de um boleto sem a pessoa perceber —então você acha que está pagando a prestação do seu carro, por exemplo, e esse dinheiro está sendo direcionado para uma outra conta". Uia!

"As pessoas geralmente caem em golpes pela ambição. É sempre aquela coisa de você ganhou um carro, você foi sorteado —e a pessoa clica na hora! Cara, nada cai do céu!", avisa Daniel Nascimento, que afirma ter deixado a vida de hacker há dez anos. Hoje em dia é empresário junto à família e periodicamente presta consultoria sobre segurança da informação.

E adverte: "As empresas estão mais voltadas em vender do que em proteger. Então, dane-se o usuário! Se eu fosse voltar a hackear hoje, eu não iria invadir um usuário comum, invadiria as empresas de venda que seria muito mais rentável!".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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