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Edson Celulari fala da sua trajetória na série 'Grandes Atores'

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"Eu acho que ser ator é uma coisa muito simples: é você ter a capacidade de se comunicar, de emocionar, de contar uma história, de você interferir na vida do outro – simples assim!", declarou o ator Edson Celulari em sua participação na série "Grandes Atores" (Canal Viva) na última terça-feira (24).

Para aumentar a renda da família Celulari (quatro filhos: dois meninos e duas meninas), o pai Edno alugou um espaço no colégio (Bauru, SP) onde as crianças estudavam, e a mãe... Trabalhava como inspetara de alunos e na cantina.

Só que na verdade, o tal espaço nada mais era do que um dos camarins do teatro da escola. Para trabalhar na cantina era necessário passar pela pequena plateia do teatro e pelo palco. "Foi assim que eu comecei a parar no palco", conta Celulari. "Eu costumava passar pela plateia vazia, parava no palco e olhava para a plateia. Um dia tive coragem e comecei a cantar, imitar... Até que um dia eu fiquei de frente para a plateia, com plateia, e não parei mais", relata o ator sobre o início da sua carreira.

"Ainda lá em Bauru a gente começou a assistir uma novela que marcou toda uma geração", lembra Edson, "era 'Irmãos Coragem' (1970), que parava o país na época e também me parava! Eu parava em frente à televisão para ver o seu Tarcísio (Meira), seu Cláudio Marzo, Cláudio Cavalcanti —aquele elenco incrível, aquela história, aquilo me marcou", confessa.

Até os 17 anos de idade o ator fazia teatro amador escondido do pai. Certa feita escreveu um texto, dirigiu e atuou no seu próprio monólogo e convidou o seu pai para assistir. "No final ele veio até mim e eu gelei. Ele falou: 'Meu filho, você tem jeito para isso! Tem faculdade disso?' Porque ele queria que os quatro filhos tivessem um diploma", explica o ator.


Então Celulari informou ao pai que tinha a Escola de Arte Dramática (EAD) da Universidade de São Paulo (USP). "Ah, na USP? E dá tempo de fazer a inscrição?", perguntou o Sr. Edno. "Já fiz, pai", retrucou Edson.

Foi enquanto cursava a EAD que Edson teve a oportunidade de fazer uma leitura dramática da peça "Rasga Coração" (Oduvaldo Vianna Filho) em um sindicato, ao lado do saudoso ator Raul Cortez. "Olha, eu acho que o [Antônio] Abujamra está precisando de um tipo como você para um pequeno papel em uma novela que vai começar chamada 'Salário Mínimo'. Procura o Abujamra na TV Tupi!", lhe sugeriu Raul.

"E lá fui eu", continua Celulari. "Tentei diversas vezes, insisti, agendei e entrei na sala do Abujamra, ele estava numa reunião. Pois não?, me falou. Eu sou o Edson, o Raul me mandou... Ele: 'Ah, pois não! Mostra os dentes'". Edson não acreditou no que ouviu. E reagiu: "Como mostra os dentes? Eu não sou cavalo pra ficar mostrando os dentes! Com licença, eu achei que isso aqui fosse uma emissora séria!" e foi saindo da sala.

Abujamra o alcançou no corredor: "Pera aí, pera aí! É uma brincadeira!". "Depois ficamos amigos, ele é um querido, formamos um grupo", declara o ator. "Eu peguei na verdade o final da TV Tupi: eu fiz 'Salário Mínimo' (1978), depois 'Gaivotas' (1979), e quando a Tupi fechou o diretor Herval Rossano me chamou para fazer 'Marina' (1980) na TV Globo", relembra Edson.

"Eu já perdi a conta de quantas vezes eu já cruzei com o autor Silvio de Abreu —um amigo querido, um profissional incrível nesse nosso mercado de trabalho", confidencia Celulari, que participou de "Guerra dos Sexos" (1983) e "Deus Nos Acuda" (1992) – quando começou a namorar a sua parceira Cláudia Raia, com quem veio a formar uma família.

A novela "Que Rei Sou Eu?" (1989), de Cassiano Gabus Mendes, protagonizada pelo ator e Giulia Gam, "foi uma ideia que deu tão certo, num momento tão propício! Uma homenagem à Revolução Francesa. Uma novela de época com um paralelo com a realidade política brasileira", observa Celulari. "Foi um momento brilhante da televisão!".

"Eu sempre tive no Lima [Duarte], no Tarcísio [Meira], no [Francisco] Cuoco —e tantos outros, no Tony (Ramos), no (Antônio) Fagundes, atores mais velhos do que eu, uma referência", declara Celulari.

Quanto aos seus filhos, só elogios: "Eu tenho sorte, porque meus filhos [Enzo e Sophia] são maravilhosos! Eles nem exigem tanto assim do pai porque eles estão muitas vezes até me orientando com a simplicidade deles diante das coisas", confessa o pai orgulhoso.

O ator confessa que adora família, que está sempre agregando, propondo encontros. Foi buscar sua mãe Enoy em Bauru para morar no Rio de Janeiro. A irmã Elvira, que administra a sua carreira, também foi morar mais perto: "Estamos ali, para o lado da Barra, morando bem próximos".

Conta também do orgulho que sentiu ao dividir o palco com o sobrinho Pedro Garcia Netto no espetáculo "Nem Um Dia Se Passa Sem Notícias Suas" (de Daniela Pereira de Carvalho).

"Eu acho que o Aguinaldo [Silva] tem essa capacidade de escrever papéis masculinos", afirma o ator, "e o Flamel (Fera Ferida - 1993) era um personagem que tinha essa força, esse poder", diz Edson. "Foi um grande sucesso" relembra o ator.

"Explode Coração' (1995), de Glória Perez, foi uma grande responsabilidade", continua. "Depois volto a encontrar Glória em 'América' (2005)", na qual a Lurdinha (Cléo Pires) o cumprimenta com um 'oi, tio!'. "Esse 'oi, tio' eu comecei a escutar pelas ruas do Brasil!", recorda. E "Quem não gostaria de ser o Vadinho?", comenta Celulari sobre a sua participação na minissérie "Dona Flor e Seus Dois maridos" (1998).

"Eu adoro fazer televisão. Nós temos um veículo que é muito bem feito no nosso país. Nós temos uma das maiores televisões do mundo! Temos autores incríveis que passeiam com essa leveza toda dentro dessa linguagem de folhetim, através da comédia, dos romances —sempre com um olhar agudo na sociedade, e isso é raro", encerra o sempre generoso ator Edson Celulari – atualmente vivendo o romântico Marcelo de "Alto Astral" (Globo).

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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