Cartunista Laerte comenta atentado aos colegas franceses do 'Charlie Hebdo'
A apresentadora do "Leitura Dinâmica" (RedeTV!) Érica Reis conversou com o cartunista Laerte na última quarta-feira (7) sobre o tenebroso ataque terrorista ao periódico francês "Charlie Hebdo".
"Trabalhar com o tema religião é mais complicado?", perguntou Érica. "Qualquer tema é possível de se tratar", respondeu Laerte. "Meu amigo [o ator] Hugo Possolo falou uma vez assim: a piada pode tratar de qualquer coisa, o importante é saber de que lado da piada você está", acrescentou.
"Eu acho essa frase genial porque ela qualifica o discurso humorístico como um discurso ideológico, que é! Não existe piada neutra, não existe discurso humorístico neutro", complementa Laerte. "Dizer isto é só uma piada é uma mentira! É uma mentira grosseira" afirmou o cartunista.
"O que o 'Charlie Hebdo' fazia, e faz ainda, era praticar algo que na França se pratica muito – que é uma 'sem cerimônia', uma sem cerimônia geral com tudo", declarou Laerte. "Sendo parte da classe, o que você sente que vai acontecer a partir de amanhã?", perguntou Reis.
"Eu acho que o alvo disso não foi o humor, não", assegurou o cartunista. "Eu acho que o alvo disso foi o objetivo político que está sendo buscado pelo radicalismo – num jogo 'vis-à-vis', o radicalismo da direita europeu, e as consequências disso podem ser muito trágicas nesse momento", alertou Laerte.
"Agora, além de apoiar o 'Charlie Hebdo' e solidarizar-se com a publicação e manifestar o nosso sentimento pela morte dos mestres, o importante é evitar o uso desse atentado com fins xenofóbicos, com fins que interessam à extrema direita na Europa!".
O mundo ficou perplexo e indignado com a atitude bárbara do ataque à sede do jornal "Charlie Hebdo", em Paris, nesta quarta —que deixou 12 mortos e 11 feridos.
Entre as vítimas fatais, alguns dos nomes mais importantes do cartum político: Stephane Charbonnier (Charb), o diretor da publicação; o mestre Georges Wolinski, Jean Cabut (Cabu) e Bernard Velhac (Tignous). Cartunistas do mundo inteiro manifestaram o seu pesar e a sua indignação através de charges em homenagem aos colegas assassinados. "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie") foi a frase que percorreu o mundo virtual e também os cartazes carregados por manifestantes em diversos pontos do planeta.
"Historicamente, este atentado representará o nosso 11 de setembro", afirmou o cartunista Ique (Victor Henrique Woitschach) em depoimento sobre os trágicos acontecimentos. E concluiu com muito pesar: "Por mais que se lute pela liberdade de imprensa, isso foi um tiro muito contundente no mundo do cartum. A partir de agora as pessoas vão pensar duas vezes quando forem usar a charge". Lamentável.
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