Renato Kramer

'As pessoas têm vergonha de ter depressão', afirma psiquiatra no 'De Frente Com Gabi'

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Quem ficou "De Frente Com Gabi" (SBT) neste domingo (31) foi a dra. Doris Moreno, psiquiatra especialista no estudo do transtorno bipolar.

"No Brasil, o número de mortes associadas à depressão está alarmante. E falar em suicídio deixou de ser tabu numa sociedade cada vez mais conectada e sem segredos", declara a apresentadora Marília Gabriela. "A rede ajuda muito a divulgar e a desmistificar", observa a dra. Doris.

"Eu sempre digo para os pacientes que tem duas coisas irreparáveis na vida, quando eles falam que estão pensando em morrer: uma é perder um filho, a outra é perder um pai por suicídio. É irreparável. E muitas vezes isso é o que os segura", comenta a doutora.

Os dados são realmente alarmantes. Doris Moreno relata que, segundo informações recebidas do presidente do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos no último Congresso Americano de Psiquiatria, as taxas de mortalidade por todas as doenças crônicas estão caindo, menos a do suicídio, que está aumentando e é maior que a taxa de homicídios. "É uma coisa assustadora!", conclui a dra. Moreno.

E a doutora esclarece: "As taxas de suicídio são maiores naquelas pessoas que tem algum problema de doença mental, seja depressão, transtorno bipolar, álcool, drogas e esquizofrenia. Entre 60 e 70% dos suicídios no mundo tem algum histórico de transtorno mental", acrescenta.

"O recente suicídio do ator Robin Williams foi um susto para todo o mundo, porque ele era um cara associado à alegria. Tem uma história, e eu quero saber se é boato: os humoristas em geral são pessoas com uma tendência à depressão, é isso?", pergunta Gabi. "Sim. Existe essa tendência. Existem sintomas", respondeu a dra. Doris. "Mas aí o que se avaliou foi num estudo populacional de comediantes sintomas associados à bipolaridade, à depressão e ao uso maior de drogas, o que não significa necessariamente diagnóstico", observa.

Crédito: Carol Soares/Divulgação/SBT Psiquiatra Doris Moreno fala sobre depressão no programa "De Frente com Gabi"
Psiquiatra Doris Moreno fala sobre depressão no programa "De Frente com Gabi"

"O Robin Williams, quando se avalia o histórico dele, ele tinha transtorno bipolar, mas aparentemente ele morreu pelo preconceito que ele tinha", diz a doutora. "Como assim?", retruca Gabi. "Aparentemente o que aconteceu – e essa é uma suspeita que seria o ponto mais importante desse programa hoje, foi o fato da pessoa não aceitar que tem depressão", explica Doris.

"As pessoas têm vergonha de ter depressão, é isso?", questiona Gabi. "Elas tem vergonha, elas pedem pra não contar, elas omitem nos testes psicotécnicos, se estiverem em tratamento elas omitem se precisarem fazer um concurso...porque existe o preconceito. Pior é quando me dizem que os médicos tem preconceito, profissionais da saúde! Isso precisa mudar!", afirma a psiquiatra.

E ainda ressalta: "Tanto a depressão quanto o transtorno bipolar tem uma grande carga genética. Parentes de primeiro grau de pessoas com depressão ou que estão abusando de álcool ou drogas precisam ficar alertas!", avisa Doris Moreno. "A depressão altera o senso de realidade para o negativo. Aquilo que tiver de problema, aumenta. Se não tiver, a pessoa cria", esclarece a doutora.

Marília Gabriela lembra que, no próximo dia 10 de setembro, vai acontecer o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. "Quer dizer que o problema é mundial?", pergunta. "É mundial", responde simplesmente a psiquiatra. "E quer dizer que o número de suicídios cresceu uma barbaridade?", insiste Gabi. "Cresceu 45% nesses últimos 20, 30 anos", informa a dra. Doris Moreno.

"Tô ficando assustada! Tô ficando bem assustada!", confessa a apresentadora. "Tudo isso que você tá me dizendo me leva a crer que a depressão é mesmo o 'mal do século'!". "A depressão é um problema grave de saúde pública no Brasil e no mundo", afirma a psiquiatra, "é a segunda maior causa de incapacitação".

"Quem comete mais suicídio, homens ou mulheres?", quis saber Gabi. "Os homens se matam mais, as mulheres tentam mais...os homens procuram menos ajuda, isso ainda é assim", responde a doutora. "O que falta na sua opinião?", pergunta a jornalista. "Falta divulgação, falta conhecimento...falta vencer o preconceito para ir atrás do tratamento e, principalmente, falta viabilizar esse tratamento para um maior número de pessoas".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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