Renato Kramer

Emílio Dantas dá vida e brilho a espetáculo que reverencia o poeta Cazuza

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O espetáculo "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz" realça a grandeza da obra poética do cantor

Depois de uma bem sucedida temporada no Rio de Janeiro, chegou a São Paulo o musical "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz", de Aloísio de Abreu, sob a direção competente de João Fonseca (o mesmo de "Tim Maia - O Musical").

"Cazuza é emoção, alegria coragem. Em muito pouco tempo de carreira ele nos deixou uma obra única, relevante e que já entrou para a história da MPB", declara o diretor no programa da peça. E salientou algo que deve acontecer com muitos que assistem ao espetáculo: "...descobri que gostava mais de suas músicas do que imaginava, e quanto mais conheço e ouço o seu trabalho mais o admiro", conclui Fonseca. E temos a tendência a nos identificar com a sua postura.

Certamente por estar ali reunida, a sua obra pode ser muito melhor avaliada e realmente vai desvelando a cada canção o grande poeta e compositor sensível que é Cazuza. É, porque apesar de sua morte tão prematura, a sua obra vibra mais viva do que nunca no palco do Teatro Procópio Ferreira em São Paulo.


Canções que ouvimos no rádio, em trilhas de novelas, em apresentações esporádicas na televisão, são cantadas no palco num encaixe perfeito com o roteiro da peça, valorizando tanto a beleza da canção quanto pontuando a situação vivida no momento.

E enquanto vai contando a história de sua vida, Cazuza solta grandes hits seus, desde a banda "Barão Vermelho" até a carreira solo: então tem "Exagerado", "Pro Dia Nascer feliz", "O Nosso Amor a Gente Inventa". A tão engajada "Ideologia", a doce e romântica "Codinome Beija-Flor" que foi trilha do casal Ângelo Antônio e Letícia Sabatella na novela "Dono do Mundo" (1991).

"Bete Balanço" (1984), tema do filme homônimo que envolvia a protagonista Débora Bloch; "Faz Parte do meu Show", que também embalou o amor de Cássio Gabus Mendes e Lídia Brondi —em sua última novela, em "Vale Tudo" (1988); a despojada "Maior Abandonado" e a que considero uma de suas obras primas: "Poema", recentemente tema da novela "Sangue Bom" (2013), na cristalina voz de Ney Matogrosso.

Ney Matogrosso aliás que também está na peça, pois marcou presença na vida de Cazuza: tanto na pessoal quanto na profissional. Ao desfazer a relação amorosa, Cazuza pega pesado e chama Ney de "bicha velha". Ao retomarem a amizade, pelo carinho que Matogrosso sempre lhe dedicara, o cantor muda o tom e o chama de "papaizinho". Genioso e genial.

Genial é também a interpretação do ator Emílio Dantas ao se entregar de corpo e alma para viver Cazuza. E consegue. Cazuza está em cena. Não apenas pela impressionante semelhança do timbre do cantor, embora a voz de Emílio seja até mais encorpada, mas a melodia, a colocação vocal, junto aos movimentos corporais, transformam o ator no personagem com total verossimilhança.

As ricas nuances entre as suas crises e os seus momentos de fragilidade são dominados por Emílio Dantas com o controle, a explosão e a emoção na medida certa. Com o seu excelente trabalho, é Dantas quem dá vida e brilho ao espetáculo que reverencia o poeta Cazuza.

Susana Ribeiro (Lucinha Araújo, a mãe) e Marcelo Várzea (João Araújo, o pai) acompanham com garra e emoção tanto o despontar de Cazuza para o sucesso quanto o sofrimento que o faz definhar até a morte. É a sofrida mãe quem narra a história do filho que vê morrer sem nada poder fazer para evitar. Talvez não haja dor maior.

Elenco afinado, coreografados por Alex Neoral, conduzidos pela bela música ao vivo sob a competente direção musical de Daniel Rocha e sob a sensibilidade e o bom gosto da direção geral de João Fonseca, que já tinha acertado com "Tim Maia - o Musical".

"Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz" está em cartaz no Teatro Procópio Ferreira. Imperdível.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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