Renato Kramer

'Vingança, o Musical' mostra clima sombrio e envolvente de cabaré gaúcho

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Eleito o "Melhor Musical de 2013" pelo voto popular do Guia da Folha de São Paulo, "Vingança, o Musical" está de volta para uma curta temporada nos fins de semana da Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso (SP).

A música "Vingança" é tida como o maior sucesso comercial do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974), universo pelo qual transita com profundidade o roteiro da peça. E Lupicínio, que criou o famoso termo "dor-de-cotovelo", dominou como ninguém esse universo feito de paixões impossíveis, boemia, traições e desencontros amorosos.

O espetáculo, agora intimista pela proximidade palco-plateia, cria o clima sombrio e envolvente da noite de um cabaré gaúcho administrado pelo discreto Orlando (Sérgio Rufino). É lá que Liduíno (Jonathas Joba) vai encontrar-se com a bela Maria Rosa (Amanda Acosta) que, por ironia do destino, acabará descobrindo ser irmã de sua dedicada esposa Luzita (Anna Toledo - também autora do roteiro) e que, por deboche total da natureza, teve uma história mal resolvida com o pacato Orlando.

Mas ainda tem o galã das madrugadas Alves (Leandro Luna), que também arrasta um bonde por Maria Rosa, mas é rejeitado, enquanto a cantora do cabaré Linda (Andrea Marquee) se vira do avesso para tentar conquistá-lo. Ela, que na hora do vamos ver, trabalha mesmo é como empregada doméstica na casa de Luzita e faz a leva-e-trás bonitinha. Mas tudo tem o seu preço.

Crédito: João Caldas/Divulgação Cena do espetáculo "Vingança", escolhido como o melhor musical de 2013 pelos leitores do "Guia"
Cena do espetáculo "Vingança", escolhido como o melhor musical de 2013 pelos leitores do "Guia"

A música ao vivo, executada lindamente por Jeferson de Lima (violão), Ricardo Berti (percussão) e Guilherme Terra (piano, responsável pela direção musical e arranjos), cria a atmosfera perfeita para o desmoronar de ilusões que acontece em cena. Cenários funcionais e figurinos discretos e bem compostos de Fábio Namatame sob a luz difusa e lusco-fusco de Wagner Freire complementam o painel que se encaminha para o trágico.

O elenco é coeso e muito ciente do papel a realizar. Cada ator criou um tipo bem definido e o mantém coerente até o fim. Todos, cada um com o seu potencial, cantam muito bem. A voz grave e encorpada de Jonathas Joba e o domínio vocal de Andrea Marquee, que passa pela escola Linda Batista sem perder a personalidade e sem deixar de imprimir o seu belo timbre, se destacam naturalmente.

O texto de Anna Toledo costura com perfeição as canções deliciosas de Lupicínio: "Volta", "Esses Moços", Maria Rosa", "Nunca", "Nervos de Aço", "Se Acaso Você Chegasse" e "Felicidade" —além da própria "Vingança", entre outras. A direção de André Dias faz o enredo fluir com leveza e densidade, ao mesmo tempo.

A temporada de "Vingança, o Musical", agora nos fins de semana na Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso (SP), deverá ir só até 29 de junho. Vale conferir: o espetáculo é uma verdadeira pérola.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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