Renato Kramer

Laila Garin revive visceralmente o 'furacão Elis' no teatro

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"Elis, a Musical", espetáculo de Dennis Carvalho, mal chegou a São Paulo e já está arrebatando os corações em uma das melhores salas da cidade: o Teatro Alfa.

E não é para menos. O espetáculo é deslumbrante.

A partir da performance arrebatadora da atriz Laila Garin que protagoniza a peça, até a mais discreta movimentação lindamente coreografada do coro — tudo no musical funciona perfeitamente para contar a história da vida e carreira, curtas infelizmente, mas intensas e eletrizantes, da maior cantora que o Brasil conheceu: Elis Regina (1945 - 1982).

Responsabilidade imensa que a baiana Laila abraça com unhas e dentes e dá um show de canto e emoção. Não porque fique igual à Elis — que nem é mesmo o propósito do espetáculo, mas porque o faz visceralmente, como viscerais eram as interpretações de Elis. E canta. E como cantam.

Seria impossível destacar um momento em que a atriz esteja menos brilhante. Mas ao interpretar "Como Nossos Pais" (Belchior) tão lindamente, se tem a nítida sensação de que Elis está presente ali, sussurrando ao seu ouvido: "É isso mesmo, guria!". Bem no estilo da "Pimentinha" gaúcha.

E Laila Garin está muito bem acompanhada. Ao seu lado estão os atores Tuca Andrada, que vestiu muito bem a camisa do nem tão "adorável cafajeste" Ronaldo Bôscoli (primeiro marido de Elis), e Claudio Lins, que traz serenidade e bel canto ao viver César Camargo Mariano (o segundo marido). Ambos com ótimo resultado.

Crédito: Daniel Marenco/Folhapress A atriz Laila Garin, que vive Elis, e Icaro Silva, como Jair Rodrigues, em cena que recria o programa 'O Fino da Bossa'
A atriz Laila Garin, que vive Elis, e Icaro Silva, como Jair Rodrigues, em cena que recria o programa 'O Fino da Bossa'

O time todo é de primeira. Danilo Timm dá um show como o bailarino Lennie Dale; Germano Melo caracteriza muito bem os personagens Mièle e Paulo Francis; Ícaro Silva encontrou a "vibe" certa do "cachorrão" Jair Rodrigues; e Leo Diniz impressiona com a sua interpretação precisa de Tom Jobim.

A música ao vivo, sob a direção de Delia Fischer, é excelente. Tanto quanto a coreografia de Alonso Barros, a iluminação sempre sensível de Maneco Quinderé, o figurino de Marília Carneiro e a cenografia e direção de arte do craque Marcos Flaksman. Impossível não citar o belo trabalho de Felipe Habib na preparação vocal.

Nelson Motta, amigo e fã confesso da cantora, escreveu o texto em parceria com Patrícia Andrade. Dennis Carvalho acertou em cheio em sua primeira direção teatral, e parece que gostou. "Agora que o bichinho do teatro me mordeu eu não quero parar", confidenciou Dennis em entrevista recente no "Programa do Jô" (Globo).

É impossível não se emocionar. Pelo talento dos atores, pela beleza das canções, pelo brilho do espetáculo e, principalmente, pelo resgate do "furacão Elis". Como declarou Caetano Veloso: "Considerando todos os fatores, Elis foi a melhor cantora que o Brasil já teve" ("O Globo", outubro de 2013). "Elis, a Musical": imperdível!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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