Renato Kramer

Ator que viveu Nino em "Rá-Tim-Bum" reestreia no teatro interpretando mulher

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A plateia estava repleta de atores na reestreia de Cássio Scapin, o Nino do clássico "Castelo Rá-Tim-Bum" (Cultura). Irene Ravache (a Charlot de "Guerra dos Sexos"), Noemi Marinho (a Margot de "Sangue Bom") e Eliana Guttman (a Ofélia de "Rebelde") estavam lá.

"Eu Não dava Praquilo" é o resultado de um trabalho criterioso de pesquisa sobre a vida de uma das atrizes mais marcantes do teatro paulistano: Myriam Muniz.

Digo do teatro porque Myriam era essencialmente uma mulher de teatro. Gostava dos desafios constantes e da ação "ao vivo" que só o fazer teatral proporciona. Mas participou de diversos filmes e algumas novelas, dentre as quais tornou inesquecível a sua participação como Dona Santa em "Nino, O Italianinho" (Tupi), em 1969. Entre outros tantos trabalhos, Myriam voltou a marcar presença na minissérie "Os Maias" (Globo), em 2000, onde viveu Titi.

Com poucos e suficientes recursos externos, Cássio Scapin assume a alma de Myriam. Para quem a conheceu, a sensação de sua presença é imediata. Sem peruca, sem vestido, sem maquiagem feminina, o ator consegue colocar Myriam Muniz de volta à cena apenas com um chale preto nos ombros, um cigarro na mão que treme e a cópia perfeita da voz enérgica e rouquenha da atriz.

Crédito: João Caldas/Divulgação Cassio Scapin em cena do monólogo "Eu Não Dava Praquilo", dirigido por Elias Andreato

Scapin não narra a história de Myriam. Ele a vive, com requintes de nuances nas emoções que cada lembrança traz à personagem. Subitamente, num jogo teatral rápido e funcional, o ator se despoja da personagem e retoma o texto para dar continuidade à ação logo em seguida. Sem perder o ritmo, sem nunca perder o fio da meada.

Nem mesmo quando uma intervenção externa inesperada o pega totalmente de surpresa. Por um golpe de olhos, Cássio percebe que a porta de emergência ao lado do palco está aberta e isto o incomoda. Mas é Myriam Muniz quem desce do palco esbravejando "Eu vou fechar esta porta que está aberta!" e assim o faz.

"Cássio Muniz" faz da plateia seus alunos de teatro. Há muito humor quando a atriz relembra o seu tempo de enfermeira. Há muita emoção ao lembrar de quando dirigiu Elis Regina em "Falso Brilhante". E há uma certa mágoa guardada ao contar que durante uma de suas primeiras apresentações no teatro, ouviu uma senhora comentando com a outra: "Mas é feia, não?!".

Myriam ficou arrasada e prometeu vingar-se. No momento mais intenso do espetáculo chorou copiosamente olhando direto para as duas que, emocionadas, choraram junto. Quando ela pensava estar vingada, a mesma senhora acrescentou: "Ela é feia e ainda sofre!". "Piorou!", queixa-se Myriam.

"Eu Não Dava Praquilo", de Cássio Junqueiro e Cássio Scapin, sob a direção sempre sensível e detalhista de Elias Andreatto é uma bela homenagem a uma grande atriz e importante mestra em interpretação: Myriam Muniz (que junto ao então marido Sylvio Zilber fundou a Escola de Teatro Macunaíma). A peça conta com a atuação precisa e comovente de Cássio Scapin e está agora em cartaz no Teatro Renaissance, em São Paulo.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias