Renato Kramer

"Já adiei muito minha vida por medo da fama", confessa Vanessa da Mata

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A cantora Vanessa da Mata ficou "De Frente Com Gabi" (SBT) na madrugada desta segunda-feira (6).

Ao ouvi-la falar com tanta ênfase do pavor que tinha da televisão, a apresentadora Marília Gabriela quis saber o motivo. "Ah, bicho do mato!", explica Vanessa, "eu era uma pessoa extremamente tímida. E também porque eu achava que a minha música é que era importante, eu mesma não tinha nada para contar. Bobagem, porque as duas coisas andam juntas".

Vanessa da Mata nasceu no interior do Mato Grosso, numa cidade onde não havia nem loja de discos e era realizado um baile uma vez por ano --conta a cantora-- e na televisão pegava só um canal. "Para ver o Silvio Santos, só na cidade vizinha!". E aos três anos de idade Vanessa já dizia para o seu pai que iria ser cantora.

"Por que?", quis saber Gabi. "Não sei", respondeu sem demora Vanessa. "Mas você já cantava?", insiste Gabi. "Cantava o dia inteiro, as músicas que nos chegavam através das novelas", conta da Mata.

Mocinha, com quinze anos de idade, Vanessa vai para a cidade mineira de Uberlândia com o álibi de se preparar para entrar na faculdade de medicina. Nunca entrou. Foi direto cantar na noite. "Mas eu era muito séria, ajuizada, superprofissional...então me admitiram numa banda local, na qual cantávamos MPB".

"Um dia um amigo do meu pai, em viagem, me viu por lá cantando e quando voltou para minha cidade ligou para meu pai dando-lhe os parabéns! Foi quando meu pai descobriu tudo e isso deu um rolo! Quase tive que voltar para casa, mas depois não precisou".

Crédito: Carlos Cecconello - 22.mai.11/Folhapress Vanessa da Mata
Vanessa da Mata

Nessa época, além de cantar, participava do time de basquete da escola. "Você também jogou basquete?!", animou-se a entrevistadora. "Mas era péssima!", confidencia Vanessa sempre sorridente. "Tomava muita trombada, caía...é um esporte violento!". "Violento é o MMA!", corta Gabi. "Ah, esse eu nem vejo. Me dá dó dos meninos!", comenta a cantora.

Mas foi desse tal time de basquete que um olheiro de uma grande agência de modelos paulista, vendo-a jogar, a convidou para vir para São Paulo tentar a carreira. Naquele ano participou do concurso "The Look Of The Year" --um ano antes da participação de Giselle Bündchen. E ficou entre as seis primeiras classificadas, em meio às dez mil meninas escritas do Brasil inteiro.

"Eu não me sentia bem como modelo, nunca me senti. Eu passava uma fome horrorosa. Havia uma forçação de barra para gente manter um corpo de adolescente que a gente não tinha mais. Eu estava com 17 anos, mas eles me cobravam um corpo de 13!", lembra a cantora de sua pequena e traumática carreira de modelo.

"E como é que o reggae entrou na sua vida?", questiona Gabi. "De uma maneira bem aleatória", explica Vanessa. "Eu vi num mural que precisavam de uma cantora para uma banda de reggae (Chalabal) e eu fui e fiquei. Eram meninas extremamente cultas, foi maravilhoso. Aprendi muito".

"Depois veio a banda Mafuá, de ritmos brasileiros, que foi uma escola para mim", continuou Vanessa. "E como foi que você chegou até Chico César que foi quando tudo realmente começou?", perguntou Gabi. "A baterista da banda Chalabal foi quem me apresentou Chico César que logo gostou do meu trabalho e resolveu produzir um disco meu".

"Um dia achei uma letra minha guardada, chamada "A Força Que Nunca Seca", achei que se parecia com Chico e ele a musicou e mandou-a para Maria Bethânia. Pronto, ela se encantou e além de gravá-la, colocou-a como título do seu álbum".

Crédito: Geraldo Pestalozzi/Divulgação Vanessa da Mata
Vanessa da Mata

É quando a entrevista assume um tom esotérico. Vanessa conta o sonho que teve ao conhecer Bethânia. "Eu estava deitada no colo dela e ela me dizia, acarinhando meus cabelos: você precisa ser acarinhada, você precisa ser descoberta...". Qual não foi a surpresa de Vanessa quando pegou a Folha no dia seguinte e leu numa declaração de Maria Bethânia: "essa menina precisa ser acarinhada, precisa ser descoberta!".

Gabi, espantada: "você está brincando". Vanessa: "Não". "Você está me dizendo que você é uma bruxa também?!". Vanessa dá risada. "Olha, a minha família é extremamente espiritualizada e esses sonhos premonitórios sempre me aconteceram".

Vanessa da Mata conta ainda sobre os três filhos que adotou (uma menina e dois meninos --que hoje estão entre os oito e os onze anos de idade). "Meu ex-marido é um excelente pai", elogia a cantora. Fala do atual projeto Nívea, no qual canta Tom Jobim, que vai percorrer ao todo seis capitais, em lugares públicos abertos e gratuitos. Para o segundo semestre, a cantora deve lançar o seu primeiro romance.

"A fama chegou a fazer você se apavorar?", perguntou Gabi num repente. "Não chegou a fazer, mas eu já adiei muito minha vida por medo da fama", confessou Vanessa. Para encerrar, Gabi recorda uma afirmação da cantora: "fama não é sinônimo de qualidade e nem me diz muita coisa". "É a cara dela!", arremata Marília Gabriela.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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