Nina Lemos

Reynaldo Gianecchini e a morbidez de todos nós

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Impossível passar por alguma banca de jornal do Brasil essa semana e não reparar em uma capa de revista que traz a imagem de Reynaldo Gianecchini careca. O ator, que está em tratamento de um câncer linfático, foi clicado andando na rua, sorrindo.

No início do mês, Gianecchini estava em todas as capas de publicações de celebridades (absolutamente todas). A foto foi tirada na porta do hospital, de onde ele saía depois de uma longa internação. O assédio era tanto que ele foi obrigado a dar uma coletiva na porta do hospital quando teve alta. E ainda teve gente que escreveu que ele estava "um pouco abatido". Escuta, era uma pessoa tendo alta hospitalar! Vítima de uma doença séria!

Semana passada, Gianecchini deu um tempo das bancas. Mas foi a vez de Socrates. O jogador, internado com cirrose, se recuperava de um sangramento grave. Não deu outra. Ele deve ter vendido revista como "a imagem do desespero, da doença, do álcool".

Ver alguém famoso doente desperta curiosidade em todo mundo. Faz parte. Impossível não se chocar ao ver que alguém novo, bonito, cheio de vida, ficou doente. A vida é punk. A vida é horrível. Uma doença não poupa nem quem é jovem, lindo e famoso. Desesperador.

Até aí, normal. O problema começa quando qualquer passo dado pelo doente é noticiado e lido com voracidade. "Gianecchini volta a fazer quimioterapia", "Marilia Gabriela foi vista chorando nos corredores do hospital." Viramos todos mórbidos que precisam checar o tempo todo que a vida é mesmo desesperadora.

Ao ter alta hospitalar, em sua tal entrevista coletiva, o ator disse que precisava de paz para seguir com seu tratamento. Pelo jeito, não vai ter isso tão cedo. A indústria de celebridades sabe que imagem de gente famosa vende que nem água, porque no fundo somos todos "meio urubus". Publicarem esse tipo de foto é triste. Mas a gente não conseguir "não ver" também é. A vida é mesmo punk.

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