Zapping - Cristina Padiglione

Globo e Record aguardaram Band noticiar a morte de Boechat

Jornalista morreu em acidente de helicóptero nesta segunda-feira (11)

Ricardo Boechat, Jornal da Band (Band)
Ricardo Boechat, Jornal da Band (Band) - Divulgação/Band
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Diante da queda de um helicóptero em plena rodovia Anhanguera, na hora do almoço, jornais, sites, emissoras de rádio e TV farejavam mais informações sobre o acidente que matara duas pessoas e deixara um motorista de caminhão com leves ferimentos. Ao tomar conhecimento da identidade de Ricardo Boechat, 66, seu principal jornalista, como um dos mortos, o Grupo Bandeirantes brecou a informação e esperou que a família de Boechat fosse comunicada antes, de modo que os parentes não soubessem do fato pela TV.

A Globo, a Record e o SBT, bem como os portais G1 e R7, cada uma por si, aguardaram que a Band noticiasse o fato, para só depois noticiá-lo, durante o jornal Hoje e o Balanço Geral. Já circulava, pelas concorrentes, a suspeita de que um dos corpos encontrados nos destroços da aeronave fosse de Boechat, mas nem o jornalismo da Globo nem o da Record se esmeraram em dar o furo jornalístico, jargão que designa o mérito de quem noticiou primeiro determinado fato.
 

Vizinho ao local do acidente, o SBT foi o primeiro a chegar à cena da tragédia, mas só colocou no ar a informação por volta de 14h.

A notícia chegou à tela da Globo pelo repórter que já sobrevoava a cena do acidente na Anhanguera, durante o jornal Hoje. Quando a câmera voltou para os apresentadores, Sandra Annenberg mostrava visível nó na garganta. Intervalo. Outro assunto, e só depois, com mais informações e imagens de arquivo, a edição do jornal retomou a notícia.

O próprio Boechat deu grandes furos ao longo da carreira. Haja bom motivo para se abrir mão de um furo, mas essa não era, com perdão pelo lugar comum, uma notícia que os colegas de profissão gostariam de dar. Boechat foi o mais premiado dos profissionais no prêmio Comunique-se, onde só votam profissionais da área. Mas, para além da vontade, nesse caso, pesou o respeito ao jornalista e à sua história, boa parte dela protagonizada na própria Globo.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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