Cinema e Séries

Filme 'Chorar de rir' com Hassum e grande elenco leva a comédia a sério e quer provocar reflexão

Longa retrata comediante que sonha em ser ator dramático

Leandro Hassum em cena de "Chorar de Rir"
Leandro Hassum em cena de "Chorar de Rir" - Divulgação
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São Paulo

A atriz britânica Rachel Weisz, 49, vencedora do Oscar pelo filme “O Jardineiro Fiel” (2005) reclama que nunca conseguiu fazer rir, e a americana Meryl Streep, 69, disse, em uma entrevista recente, que só agora se sentia realmente pronta para fazer uma comédia.

Foi a partir desses depoimentos que o diretor Toniko Melo criou o longa “Chorar de Rir”, com Leandro Hassum e Rafael Portugal, que estreia nesta quinta-feira (21). O elenco tem Otavio Muller, Natália Lage, Fúlvio Stefanini e participação de Sidney Magal.

O longa não foi feito para o público “chorar de rir”, como diz o título, mas usa a comédia como protagonista da história. Nela, Nilo Perequê (Leandro Hassum) é um comediante de sucesso que está cansado de não ser levado a sério. Todo o mundo ri dele –até mesmo o amor de sua vida. Por isso, ele decide ser um ator dramático. Ele bate de frente com seu concorrente, Jotapê (Rafael Portugal) que pretende ganhar espaço na comédia com a desistência de Nilo.

Os atores Caito Mainer (de "Choque de Cultura) e Carol Portes (de "Tá no Ar") formam uma dupla de jornalistas de TV sensacionalistas que só colocam fogo nessa disputa. 

Todo esse enredo revela um drama de quase todo artista de humor. “A maturidade me trouxe essa tranquilidade de ser comediante, e hoje acho um saco esse papo de que o ator de humor precisa provar que sabe fazer drama”, diz Leandro Hassum, que conta o momento de sua descoberta. “Ainda bem jovem, fiz um papel sério da peça ‘Dois Perdidos Numa Noite Suja’, do Plínio Marcos. Eu ficava puto porque em uma das mais dramáticas cenas, o público ria. Eu emocionado para caramba, poxa. Na época, o diretor me falou: você respira comédia, entenda isso”, lembra o ator.

Hassum diz que passa esse drama diariamente. “Se eu ler uma bula de remédio, a pessoa já começa a rir. Quando eu vou ao banco e falo que estou com um problema sério, o atendente ri primeiro, e depois percebe que não é piada”, conta o ator.

Para Rafael Portugal ser comediante está longe de ser um problema. “Amo fazer as pessoas rirem. Claro que existe a cobrança de que seria legal fazer algo diferente, mas não acho que isso é uma questão importante”, defende Portugal, que estará na segunda temporada da série “Carcereiros” (Globo). “Quando o José Belmonte Belmonte [diretor] me chamou para fazer essa série, por exemplo, eu achei muito legal e emocionante”, afirma Portugal. 

A atriz Carol Portes, do humorístico “Tá no Ar” (Globo) e do longa “Amor.com” (2017), diz que não se vê só uma comediante. “Sou uma atriz que tem vocação para fazer comédia. Nos últimos dez anos, eu só tenho feito isso, mas é porque só me chamam para isso”, conta ela, satisfeita. “Acabo fazendo bem porque eu gosto. Aceitei fazer humor e sou feliz, mas se rolar de fazer qualquer outra coisa, eu pego!”, brinca a atriz que fez um curta de terror, em 2013, chamado “Pedaços”, disponível na internet. 

A história de “Chorar de Rir” foi criada pelo cineasta Toniko Melo, de “Vips” (2010) com o cartunista Caco Galhardo, e o roteiro feito pelo premiado escritor José Roberto Torero. 

SIDNEY MAGAL, SERGIO MALLANDRO E GRANDE ELENCO

Um elenco de atores fortes no ramo da comédia ajuda a sustentar a história do longa "Chorar de Rir". O casal Jaimelito (Otavio Muller) e Kitty (Natália Lage) –ela irmã de Nilo Perekê–, são empresários do comediante e enriqueceram às custas do parente.

Monique Alfradique, atriz de novelas como “Deus Salve o Rei e “A Regra do Jogo” (Globo), é ex-namorada e o grande amor de Nilo, que o deixa de lado sempre que aparece um grande diretor dramático de teatro. Fúlvio Stefanini interpreta um respeitado ator dramático que oferece ajuda ao comediante desesperado. 

Algumas participações são breves, mas especiais. Sidney Magal faz algumas pontas como um feiticeiro que ajuda atores na situação que ele está, e Sérgio Mallandro tira sarro de si mesmo em uma das cenas que mostram atores que não conseguem sair de seu personagem. 

COMEDIANTES NÃO GANHAM PRÊMIOS, RECLAMAM PERSONAGENS

Uma das brincadeiras do filme é o fato de que comediantes não ganham prêmios. “Vejo o filme como uma ode à comédia e eu quero fazer todo o mundo pensar porque a classe artística despreza tanto esse gênero. Não é preciso ter uma tese acadêmica para saber disso, basta olhar para o Oscar, que só tem os comediantes como apresentadores da premiação”, afirma o diretor do longa Toniko Melo. 

A atriz Carol Portes acredita que essa realidade começa a mudar. “Vejo que as premiações têm as categorias de melhor ator e de melhor atriz e, bem lá no fim, aparece melhor comediante, que nem em gênero está divido. Agora, o pessoal está dando uma respeitada, justamente porque há muito humor inteligente e político, como o ‘Tá no Ar”, avalia a atriz.

Para Caito Mainer, 41, ator e roteirista do programa “Lady Night” e “Choque de Cultura” é legal ver o humor ser reconhecido por seu aspecto político. “Mas não há problema nenhum só fazer rir. Na vídeo cassetada, a gente só quer ver o cara cair, não precisa ter um fundo psicológico nisso”, brinca o humorista. “O humor toca as pessoas, faz refletir e nos permite falar de coisas que seriam mais delicadas em um longa dramático. A gente exagera e faz, mas só rir por rir também é valido”, afirma Mainer. 

Toniko Melo, diretor do longa, lembra que o Fábio Porchat _que faz uma participação surpresa, logo após os créditos_ criou o “Prêmio do Humor”, justamente para cobrir essa lacuna. A edição deste ano entregue no último dia 12 teve, entre os vencedores a atriz Carolina Ferraz, pela peça “Que Tal Nós Dois?” e homenagens a Jô Soares e Berta Loran. 

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