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Em discurso emocionante, Caitlyn Jenner se diz 'sortuda' e pede apoio a jovens trans

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Homenageada no prêmio esportivo ESPYs, em Los Angeles, Caitlyn Jenner, que é ex-atleta, fez um discurso em que reconhece a responsabilidade de ser uma pessoa pública e pede apoio e conscientização para com os jovens transgêneros.

Jenner chamou atenção para o fato de que nem todos têm, como ela, um apoio nos esportes e na fama na hora de lutar contra a transfobia e o preconceito.

"Se alguém quisesse fazer bullying comigo, quer saber? Sou o 'MVP' [jogador mais valioso] do time de futebol. Nunca foi problema para mim. Se quisessem me chamar de nomes, fazer piadas, duvidar das minhas intenções, vão em frente, porque eu aguento. Mas milhares de crianças lá fora que estão sendo verdadeiras consigo mesmas não deveriam ter que aguentar", disse.

Sob fortes aplausos, Caitlyn, que foi campeã de atletismo nas Olimpíadas de 1976, chorou no palco ao receber a condecoração Arthur Ashe de coragem.


LEIA NA ÍNTEGRA O DISCURSO DE CAITLYN

"Muito obrigada a todos. É maravilhoso estar aqui esta noite. Os últimos meses foram como um redemoinho de emoções e experiências novas. Mas para dizer a verdade, parece que sempre que olho para trás em minha vida, me coloco nessas situações de alta pressão. Competições esportivas, criar uma família. Mas nunca me senti tão pressionada quanto nos últimos dois meses: escolher essa roupa! Consegui, meninas! (risos). Tem que planejar os sapatos, o cabelo, a maquiagem, o processo todo. Foi exaustivo. E tem o 'Fashion Police', por favor sejam bonzinhos comigo! Sou nova nisso!

Quero mandar um rápido parabéns às meninas do futebol! A verdade é que, até poucos meses atrás, eu nunca tinha conhecido outra pessoa trans, nunca. Lidei com minha situação sozinha, e isso levou a essa jornada incrível. Foi inspirador, esclarecedor, mas ao mesmo tempo assustador. No país inteiro, no mundo inteiro, neste mesmo segundo, há pessoas sofrendo por serem transgêneros. Eles estão aprendendo que são diferentes e tentando lidar com isso, além de todos os outros problemas que um adolescente já tem. Sofrem bullying, apanham, são assassinados e cometem suicídio. Os números que vocês acabaram de ouvir são assustadores, mas é a realidade do que é ser transgênero hoje.

No mês passado, o corpo de Mercedes Williamson, de 17 anos, uma jovem negra transgênera, foi encontrado esfaqueado até a morte no Mississipi. Também quero contar sobre Sam Taub, um jovem garoto transgênero de 15 anos de Bloomfield, Michigan, que tirou a própria vida em abril. A história de Sam me atormenta em particular porque sua morte aconteceu dias antes de minha entrevista com Diane Sawyer. Sempre que algo assim acontece, a gente pensa se poderiam ter feito algo diferente na forma de abordar esse assunto, e se teria conseguido mudar algo. Nunca saberemos.

Se tem algo com que me importo agora na minha vida é poder dos holofotes. Com atenção, vem a responsabilidade. Como atletas, o jeito como vocês conduzem suas vidas, o que vocês falam, o que vocês fazem, é absorvido e observado por milhões de pessoas, especialmente jovens. Tenho a responsabilidade de contar minha história do jeito certo, de continuar aprendendo, de reformular o jeito como os transgêneros são vistos e tratados. E de promover uma ideia simples: a de aceitar as pessoas como elas são. Aceitar as diferenças.

Meu pedido a vocês essa noite é que se juntem a mim e façam dessa sua luta também. Como começar? Na educação. Tive sorte de conhecer Arthur Ashe e sei o quanto a educação foi importante para ele. Aprender tudo o que se pode sobre uma pessoa ajuda a entendê-la melhor. Sei que há pessoas nessa sala que se respeitam o trabalho duro, o treinamento e o poder de enfrentar algo difícil para conseguir o que se quer. Eu treinei duro, competi, e recebi respeito por isso. Mas essa transição foi mais difícil para mim do que qualquer coisa que eu possa imaginar. E esse é o caso para várias outras pessoas. Só por isso essas pessoas já merecem respeito. E desse respeito vem uma comunidade com mais compaixão, com mais empatia, um mundo melhor para todos nós.

Muita gente fez este caminho antes de mim. Renée Richards, Chaz Bono, Laverne Cox e muitos outros. Janet Mock está conosco hoje. Quero agradecê-los publicamente e ao ESPY e a Arthur Ashe por me dar essa base para começar a próxima fase da minha jornada. Quero também reconhecer os jovens transexuais atletas que estão por aí e que agora podem competir como se identificam. Parece que, em breve, as pessoas trans vão poder também servir o exército. É uma ótima ideia. Percorremos um longo caminho, mas ainda temos muito trabalho a fazer.

Quero agradecer pessoalmente à minha amiga Diane Sawyer. Você só pode contar sua história pela primeira vez uma vez, e Diane, você fez isso de forma tão autêntica e graciosa. Eu e a comunidade te agradecemos muito por isso. Sou orgulhosa de tê-la como minha amiga.

Aqui vem a parte difícil: quero agradecer minha família. O maior medo que eu tive de surgir como Caitlyn Jenner foi que eu nunca quis machucar alguém, principalmente minha família e meus filhos. Sempre quis que minha família tivesse orgulho de mim pelo que conquistei. Vocês me deram muito apoio e agradeço tanto por tê-los em minha vida. Obrigada.

E por último, mas não menos importante, minha mãe, que na semana passada fez uma cirurgia e eu não achei que ela fosse sobreviver, mas ela está aqui comigo esta noite. Sempre achei que herdei minha coragem e determinação do meu pai, que lutou na Segunda Guerra Mundial, mas agora, mãe, penso que herdei todas essas qualidades de você. Estou muito contente que você esteja aqui comigo compartilhando este momento.

É uma honra ter a palavra 'coragem' associada à minha vida. Mas hoje, outra palavra vem à minha mente, é sorte. Devo muito ao esporte. Ele me mostrou o mundo, me deu minha identidade. Se alguém quisesse fazer bullying comigo, quer saber? Sou o 'MVP' [jogador mais valioso] do time de futebol. Nunca foi um problema e a mesma coisa continua hoje. Se quiserem me chamar de nomes, fazer piadas, duvidar das minhas intenções, vão em frente, porque a realidade é que eu aguento. Mas os milhares de crianças lá fora que estão sendo verdadeiras consigo mesmas não deveriam ter que aguentar.

Para quem está se perguntando o porque de tudo isso, se é pela coragem, pela polêmica ou pela publicidade, bom, direi a vocês que é por tudo. É pelo que vai acontecer a partir daqui. Não é uma só pessoa. São milhares de pessoas. Não sou só eu. É sobre todos nós aceitarmos um ao outro. Somos todos diferentes, isso não é ruim. Isso é bom, e pode não ser fácil passar pelas coisas que não entendemos, mas eu quero provar que é absolutamente possível se fizemos isso juntos."


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