Celebridades

Regina Duarte tira a maquiagem para atuar em 'Gata Velha Ainda Mia'

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Regina Duarte atravessa a avenida Paulista. O vento abre seu casaco: "Estou parecendo o Dick Tracy", afirma. Descendo a rua Augusta, sorri para uma moça que a reconhece: "Fiz um sorriso de gata velha".

Aos 67 anos, a atriz protagoniza o filme "Gata Velha Ainda Mia", com estreia marcada para dia 15 de maio.

Ela interpreta Gloria Polk, uma escritora reclusa e louca que abre sua casa para ser entrevistada por uma jornalista (Bárbara Paz). No encontro, as duas desenvolvem uma relação paranoica.

O suspense, de orçamento baixo (R$ 150 mil), é o primeiro longa dirigido pelo ator e autor teatral Rafael Primot.


No papel, Regina dança sensualmente com turbante à la Porcina, fuma um cigarro atrás do outro e, com entonação sinistra, murmura para a outra: "Gato Mia? Você tem que responder 'miau'!".

Com mais de 50 anos de carreira, Regina é matéria-prima recorrente nas piadas da internet: uma hora é fotografada vestida de forma bagunçada no aeroporto, carregando várias bolsas de mão, outra hora são vídeos que se espalham por redes sociais nos quais ela dança ou promove toalhas em um bazar.

Nesta entrevista, disse não ligar para isso. Mas mostrou ligar, ainda, para aquela história do "medo": pediu para não responder sobre a sua participação nas eleições de 2002, quando afirmou na TV temer a vitória de Lula. "Há 12 anos me perguntam isso."


Folha - Por que embarcou neste projeto alternativo?
Regina Duarte - Eu tinha recebido o texto, como se fosse uma peça. Minha filha e eu estávamos procurando alguma coisa para fazer no teatro. Dei uma olhada rápida, gostei. A Gabi disse: 'Vamos fazer logo antes que a Sorrah passe na nossa frente outra vez'. A Renata Sorrah é a rainha de chegar aos agentes das boas peças antes. A danadinha é rápida! Aí o Rafael [Primot, o diretor] um dia me liga para a leitura de um filme que ele escreveu. Nunca podia imaginar que era a mesma obra.

É um papel bem diferente dos que costuma interpretar, não?
É um marco. A Gloria é diferente de tudo o que já fiz. Isso não é pouco para cinco décadas de atuação. A minha carreira inteira foi assim: Quando fica confortável, busco coisa nova.

Como foi o processo?
O diretor extraiu essa mulher de mim. Ele não queria maquiagem, rímel. Não estou acostumada. São mais de 50 anos embonecadinha para parecer lindinha no vídeo.

Quando vi minha primeira cena, disse: "Não posso ver, meu ego não aguenta". Me achei horrorosa. O Rafael me virou do avesso: me vez viajar na angústia do meu futuro, fez com que me visse velha, mais velha do que sou.

Já me vi velha em "Chiquinha Gonzaga", mas era uma pegada romântica. A Gloria envelhece mal, amarga, guardando desejos de vingança. Tenho pânico de virar mal-humorada. Tipo: tá sol? "Que merda!" Choveu? "Que merda!" Isso é o que doeu.

Como foi interpretar uma personagem insana?
É o tipo que escapa do monocórdico das interpretações em geral. Para a Gloria, discernir o são do patológico é difícil. Como artista, ela se permite enlouquecer.

Gosta de filmes de suspense?
Não. Daquela coisa mais elegante dos anos 1940, 1950, eu gosto. Hoje em dia eles entram no terror, numa coisa mais trash e aí já não gosto.

Nem dos mais psicológicos?
Gosto e não gosto. Um lado gosta, mas um lado fica muito tenso a ponto de eu acabar com dor na nuca.

Há uma tensão sexual entre sua personagem e a de Bárbara Paz?
Gosto que as pessoas achem que pintou um tesão. Não estava nos planos da Gloria quando ela aceita dar a entrevista, mas, lá pelas tantas, depois do segundo copo de vinho, pinta um tesão.

O Rafael Primot diz que você é uma pessoa solar.
Nem sei se sou solar. Me coloco solar. Faço um esforço. Tenho medo de não aguentar. Não pode facilitar com a depressão. Tem que estar alerta. Estou voltando de Portugal. Lá é chique ser triste, alegria é vulgar. Lá eu parecia uma mariposa, vulgar, rindo de tudo. Contra a depressão vou lutar sempre porque tenho medo que ela me puxe pelo pé.

Como você luta contra?
Caminhando, respirando, acelerando o coração de alguma forma. Se você começa a ficar parado, a tendência é que comece a atrofiar.

Chega a tomar remédios?
Não. Aí é criar dependência, se esconder. Não sou contra os remédios. Emergencialmente, por que não? Mas em princípio, cara limpa. Nunca tomei nada, só vitaminas.

Há coisas específicas que te deixam mais triste?
Muitas. Sou de uma geração que dormia de porta aberta. É chocante ver tudo com grades, carros blindados, insegurança. Você luta para ter as coisas e depois fica com medo que te tomem.

Você acompanha os sites de notícias que publicam fotos suas no aeroporto?
Às vezes. Acabam me falando que me viram com duas bolsas, com o cabelo não sei como. Saio com a roupa que peguei do armário. Não me produzo. Ator não mente na vida real porque tem o espaço da mentira, o palco. Na vida real tem de ser transparente.

Mas aquilo te incomoda?
Não ligo. Alguém me perguntou por que eu não me arrumava para pegar avião. Não quero ficar com essa imagem de Maria Louca, mas vou continuar usando três bolsas se me sentir confortável. E deixar os paparazzi ganharem a graninha deles.

E os vídeos da internet?
Aquele em que estou dançando? [Um vídeo de 2012 em que ela aparece dançando na beira da piscina, sucesso na rede]. Nos comentários, escreviam: "O que ela andou fumando?". Desculpe, não fumei nada, não bebi. Estava feliz, tinha uma banda tocando. Dei tchauzinho, os músicos foram ficando alegres. Comecei a dançar. Tem uma criança meio sapeca em mim.

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