Celebridades

"Eu tinha perdido a fé na profissão que escolhi", diz Sandra Bullock

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A última coisa que você deseja ao conhecer Sandra Bullock é que ela repare em suas tatuagens. Afinal, seu ex-marido, o apresentador tatuadésimo Jesse James, humilhou a atriz quando admitiu que tinha um caso com a modelo (também tatuada) Michelle McGee, provocando o fim de um casamento de cinco anos com a atriz.

Mas ela percebe e faz graça:"Deixe-me ver suas tatuagens", dispara Sandra, de vestido colado vermelho. "Impressionante a nitidez e muito bons os traços." Então, para de falar por alguns segundos e depois completa: "Chega desse papo!"

Sandra Annette Bullock, 49, poderia muito bem evitar esse tipo de situação. Com uma fortuna estimada em R$ 290 milhões e um cachê girando em torno de R$ 35 milhões, a atriz não precisaria trabalhar nunca mais para criar seu filho adotivo, Louis, 3. E chegou a pensar nisso depois do divórcio.

Tirando uma pequena participação no drama "Tão Forte e Tão Perto", de 2011, não protagoniza um filme desde "Um Sonho Possível" (2009), que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz poucos dias antes de descobrir a traição do marido.

Decidiu voltar neste ano em "As Bem Armadas", a comédia de maior sucesso de bilheteria de 2013, ainda em cartaz no Brasil, e em "Gravidade", ficção científica do mexicano Alfonso Cuarón (de "E Sua Mãe Também"), que estreia no país em 11 de outubro após ter arrancado elogios rasgados e aplausos de pé nos festivais de Veneza e Toronto. "Eu tinha perdido a fé na profissão que escolhi e não tinha ideia se voltaria a filmar", admite. "Mas Alfonso restaurou minha empolgação com a carreira e com o cinema."


CONCORRÊNCIA ACIRRADA

O "renascimento" de Sandra, no entanto, não foi tão simples. A atriz se interessou por um papel que já havia sido oferecido para Angelina Jolie, Marion Cotillard e Natalie Portman: a cientista Ryan Stone, em sua primeira viagem espacial para consertar o telescópio Hubble. Indicada pelo amigo George Clooney, que faz o astronauta Matt Kowalsky, ela viu o roteiro de Alfonso Cuarón e do filho dele, Jonás, cair em seu colo.

"Poucas vezes você tem a oportunidade de sair da zona de conforto e ser desafiada como neste filme. Foi uma experiência de vida." Ou uma experiência de "quase-morte". Cuarón criou técnicas de filmagem para ilustrar a odisseia dos dois astronautas deixados à deriva no espaço quando detritos de um satélite russo destroem o ônibus espacial Explorer. Sandra teve que atuar pendurada em guindastes gigantescos com 16 cabos de aço para reproduzir a gravidade zero, assim como em máquinas apelidadas de "cadeira de bicicleta" para capturar a sensação de giro no espaço.

"Quando entrei no estúdio, me senti num museu dedicado à tortura. Tudo foi inventado para esse filme e nada havia sido testado. A gente não sabia se ia dar certo até entrar na máquina", lembra a atriz. "Um dia antes de rodar, o guindaste deu pane e um dos braços caiu em cima do lugar onde meu braço estaria."

Os "mexicanos malucos", como Sandra apelidou a equipe de Cuarón, não pararam por aí. "Eles usavam um equipamento que testa resistência de carros nas fábricas em Detroit. Colocavam a câmera nele e lançavam a 40 km/h. O negócio parava a um palmo dos meus olhos", diz. "Em uma cena dentro d'água, Alfonso me pediu para soltar menos bolhas. Não se importavam se eu morresse ou vivesse", exagera.

"Ela ainda está com raiva de mim. As bolhas ainda estão ao redor dela", diverte-se Cuarón. A atriz continua: "Tinha dias em que eu não entendia nada do que Alfonso falava. O processo era frustrante, uma luta, mas, no fim, compreendi que era preciso tirar todo meu conforto para representar o que a personagem estava sentindo".

O único alívio era a presença de seu amigo Clooney no set. "Sandra teve o maior trabalho de todos. Nunca vi uma dedicação tão extrema a uma personagem. Cheguei às filmagens só no fim e perguntei: 'O que diabos estão fazendo?'", disse o ator no Festival de Veneza. "Ele alegrava o ambiente e nos olhava como se fôssemos malucos", lembra Sandra, que era obrigada a fazer todos os movimentos muito devagar para fingir que estava no espaço.

Para encontrar a dor de sua personagem, que perdeu a filha, a atriz fez uma compilação de músicas e ruídos que era tocada de acordo com a cena que estava representando. "Ouvia de Radiohead a sons de baleias, de música clássica a ruídos de metal", explica ela, que chegou a chorar após uma cena. "Acho que a música é a maneira mais rápida de me fazer sentir algo."

Tanto é verdade que a atriz trocou Nova York e Los Angeles por Austin, no Texas, a capital da música ao vivo dos Estados Unidos, onde também possui um restaurante, o Bess Bistro, e um mix de padaria e floricultura chamado Walton's Fancy and Staple. "Gosto de Austin, há uma energia incrível lá. Ainda pensei em me mudar para Nova Orleans, mas não conhecia ninguém na cidade. Levo uma vida simples, nem lembro que existe uma indústria de cinema", diz a atriz, que já esteve no Rio, em 1997, para divulgar um de seus piores filmes, "Velocidade Máxima 2" --sequência do longa de ação que a revelou para Hollywood.

"Precisei fugir dos seguranças para ir à praia no Brasil." Uma adversidade menor perto do que Sandra e sua Ryan Stone passaram na vida real e na ficcional. "Sinto medo todos os dias da minha vida, ainda mais depois de ter um filho. Ter um filho é como estar constantemente à deriva", diz ela, mais séria e levantando-se para finalizar a entrevista. "A vida vai acontecer, não adianta tentar controlá-la. É como a gravidade, sempre colocando seus pés no chão."

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