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"A gente é a Globo do YouTube", diz Fabio Porchat sobre fenômeno Porta dos Fundos

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"Resolvemos fazer o Porta dos Fundos porque ele não existia, e era tudo que queríamos estar vendo." É assim que o ator e roteirista Fabio Porchat, 29, resume a criação da produtora Porta dos Fundos, que em seis meses no ar, com um canal no YouTube, já se tornou um sucesso de público (mais de 735 mil inscritos no canal) e de crítica (venceram o prêmio da Associação Paulista de Críticos como melhor programa de humor).

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Na entrevista abaixo, Porchat conta como se juntou a outros quatro cariocas bem humorados --o ator Gregório Duvivier, 26, os publicitários Antonio Tabet (do site Kibe Loco), 38, e João Vicente de Castro, 29, e o diretor e produtor Ian SBF, 32 (do site Anões em Chamas)-- para criar a produtora responsável por vídeos como "Sobre a Mesa" e "Na Lata", cada um deles na casa das 4 milhões de visualizações.

Fala ainda sobre os projetos de expansão da produtora --que já atende empresas, depois do sucesso do vídeo "Spoleto", e prepara um filme para os cinemas-- e sobre a liberdade de criação que o sucesso trouxe.

"A gente é a Globo do YouTube, nós somos os Robertos Marinhos, então a gente pode fazer o que quiser no Porta dos Fundos. Tem de aproveitar o momento. Sei que essa carreira é difícil, hoje todo mundo sabe quem você é, amanhã ninguém quer olhar para a sua cara."


Folha - Como vocês avaliam o sucesso do Porta dos Fundos em seis meses de existência?
Porchat - A gente fica muito feliz e surpreso, estamos conseguindo ir bem com público e crítica. Desde o início, nosso "feeling" é fazer o que a gente acha que é engraçado. Somos cinco cabeças pensantes que decidiram fazer aquilo que gostariam de ver. Resolvemos fazer o Porta dos Fundos porque ela não existia, e era tudo que queríamos estar vendo.
A gente faz com apuro técnico, o que para a internet brasileira é quase uma novidade, geralmente os vídeos são mais caseiros, com produções básicas, em casa. Temos um elenco muito bom, ótimos roteiristas, o Ian [SBF] é um grande diretor de comédia e editor também. É uma junção de muita coisa.

Como a produtora começou?
Todos nós éramos amigos, nos reuníamos para tomar chope, íamos para a casa de alguém fazer uma jogatina, mímica, dicionário, essas brincadeiras. Eu e o Ian somos padrinhos de casamento um do outro e temos uma empresa juntos, a Fondo Filmes, todos os equipamentos eram da nossa empresa. O Ian fez o Anões em Chama, um site que fez razoável sucesso, e ele já conhecia o Kibe, o Antonio Tabet. O Gregório Duvivier era um grande amigo, eu já tinha feito filmes e seriados de TV com ele, o Ian também o conhecia. O João Vicente era o único que eu não conhecia, o Antonio trabalhava com ele no "Caldeirão do Hulk".

Nos juntamos depois do Carnaval do ano passado, com a ideia de produzir vídeos de humor para a internet. Chamamos uns atores que eram amigos nossos para fazer uma leitura, funcionou, todo mundo riu. Aí começamos a nos programar para lançar quando já tivéssemos um frente de textos escritos e de vídeos feitos. Chegamos a conclusão de que dois dias por semana era bom, ia funcionar. A gente achou que ia dar certo, mas não em tão pouco tempo. Fizemos seis meses agora e virou um fenômeno, as pessoas que falam comigo na rua só falam disso, me reconhecem por causa do Porta dos Fundos.

Quem sugeriu o nome?
O nome surgiu em uma das jogatinas que a gente fazia. Teve uma mímica que o Ian teve de fazer para "porta dos fundos", e ele fez uma coisa horrorosa, ninguém conseguiu adivinhar. Quando resolvemos pensar em um nome, além de ter essa história divertida do Ian, a gente achou que tinha tudo a ver com a ideia de que as pessoas consideram a internet a porta dos fundos, algo usado como um trampolim para chegar na televisão. Nós, ao contrário, já estávamos na TV, queríamos usar a internet para ficar lá. Entramos pela porta dos fundos, mas metendo o pé na porta.

E está dando dinheiro?
Dá dinheiro, mas você está falando com um cara criativo, eu não faço a menor ideia dos números. O que eu sei foi que a gente foi botando dinheiro do bolso, cada um deu a mesma coisa. Já tínhamos os equipamentos da Fondo. Agora, todo dinheiro que estamos ganhando está sendo reinvestido na empresa. Contratamos mais funcionários, compramos mais equipamentos, gastamos mais com os vídeos. Agora a gente tem figurinista, maquiador, assessor de imprensa, estamos começando a fazer uma empresa forte, os sócios não pegaram dinheiro nenhum de volta, nosso objetivo final é a empresa. Não estamos fazendo isso como uma vitrine para nos chamarem para outras coisas, esse é o meu trabalho. Eu tô na Globo, tô na Porta dos Fundos, tô no cinema.

Nosso primeiro patrocinador foi o Spoleto, que amou o vídeo que fizemos e comprou mais duas continuações, que eles lançaram no canal deles. Essa é uma das nossas políticas: a gente não faz propaganda no nosso canal. Sempre que for propaganda, como foi o do Spoleto, a gente faz, divulga, mas é para fora.

Por que essa decisão de não ter propaganda no canal?
A gente quer manter nosso canal para o humor mesmo, sem propaganda. Comercial as pessoas já veem na televisão. O Porta virou esse fenômeno também por causa do cansaço das pessoas com a TV, com a mesmice. Nós somos uma coisa diferente e, se começarmos a fazer anúncio, a trazer comercial para o nosso canal, vamos ficar igual ao que é a TV. E a gente não quer se comprometer. Se eu quiser fazer um vídeo sacaneando algum patrocinador, vamos fazer.

A reação da empresa àquele vídeo foi uma surpresa?
Eu achei que o Spoleto ia vir muito bravo para cima da gente. Mas a gente sacou que as empresas estão começando a ter um novo olhar sobre isso, pegou muito bem para o Spoleto, as pessoas falaram bem, saíram matérias gratuitas, uma coisa doida. Agora várias empresas estão vindo atrás para fazermos vídeos para elas, a gente tem umas empresas dando dinheiro, como a Fiat, para quem fizemos vídeos que ela vai lançar no canal dela depois do Carnaval. Temos pedidos de tudo. Uma empresa queria que fizéssemos um vídeo falando mal da concorrência, mas não fazemos isso, falamos mal de quem quisermos.

Mas naquele vídeo "Na Lata" vocês falam mal da concorrência da Coca.
Mas o vídeo não é da Coca-Cola, é nosso, ela não pagou um centavo para a gente. Falamos mal de brincadeira, de sacanagem. Quando a empresa paga a gente para alguma coisa, não vamos falar mal [da concorrência], senão ficamos meio malditos, é meio antiético, meio errado. Falamos mal quando queremos falar mal, como no "tipo Net" [vídeo que ironizava a operadora a cabo].

Tem uma divisão de tarefas no grupo?
Tem. O Ian, que é o diretor e editor da parada, é o mais ocupado. Eu e o Gregório escrevemos e atuamos, o Kibe escreve e de vez em quando participa como ator, e o João Vicente também participa como ator de vez em quando, mas é da área comercial, ele é quem vai nas empresas com a pastinha embaixo do braço. Nós cinco escrevemos, mas isso têm caído mais para mim, o Gregório e o Kibe. Temos duas reuniões semanais, para aprovar textos, falar de assuntos comerciais e afins. Aprovados os textos, mandamos para a produção, que bota os textos para frente. Trabalhamos com uma frente, temos 30 textos aprovados que não foram feitos. A gente não faz nada muito temporal, não é ªvamos falar sobre a novelaº, são coisas mais genéricas.

Há algum tema que seja proibido? Como vocês controlam essa parte das potenciais polêmicas?
A gente não se prende a nada. Já fizemos vídeo sobre a Ku Klux Klan, a Bíblia, todos os tipos de vídeo que poderiam ser polêmicos, e nunca deu polêmica. Somos cinco cabeças pensantes aprovando os textos, é difícil alguma coisa que a gente acha que está escorregando ali, ou que está agressivo, passar pelos cinco. Na verdade, a questão é sempre o que é engraçado. Alguém pode ficar chateado com isso? Pode. Mas é engraçado a ponto de valer a pena? É. Então vamos fazer. Até hoje não tivemos nenhuma reclamação ou ameaça de processo, ao contrário, as pessoas estão levando na brincadeira. A gente não quer ser polêmico, não escolhemos o assunto por isso. Não tem nenhum assunto até hoje que a gente tenha falado "não vamos fazer". Talvez a gente nunca mostre Alá, não precisamos de ninguém nos explodindo aqui no Rio.

Você diria que o humor de vocês é carioca?
Não sei. Nós nascemos, moramos e trabalhamos no Rio, então é claro que o humor é mais carioca do que mineiro. Mas temos até evitado referências muito específicas ao Rio, para que todo mundo entenda a piada. Não sei se existe isso de humor carioca. Eu vejo o "Terça Insana", que é uma coisa superpaulista, mas deu supercerto no Rio. A gente tem um público muito grande em Portugal, já deu entrevista para a TV e para jornais portugueses. Se funciona em Portugal, funciona em São Paulo.

E como está o projeto do filme que vocês estão preparando?
Estamos escrevendo o roteiro, não vão ser esquetes. O roteiro deve ficar pronto em março e devemos filmar no segundo semestre. Os atores são os mesmos do Porta, o diretor é o Ian, a Iafa Britz é a produtora. Deve se chamar "Porta dos Fundos - O Filme". A Iafa já conseguiu uma grana, acho que R$ 2 milhões para o filme.

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