Bichos

Rancho tenta alimentar leões com ração vegetariana

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Eles amam bichos e, há 20 anos, dedicam-se a cuidar de cães, aves e até leões abandonados em um santuário ecológico em Cotia, a 31 km de São Paulo.

Mas não param por aí: adeptos do veganismo --não comem carne nem derivados de animal--, Marcos Pompeu, 45, e sua mulher, Silvia, 49, responsáveis pelo Rancho dos Gnomos, buscam uma alternativa para não alimentar com carne os bichos abrigados ali.

"É como trocar seis por meia dúzia. Você cuida de um e sacrifica o outro", diz Silvia. O casal faz testes para criar uma ração com soja e nutrientes sintéticos que possa substituir as vísceras de boi, carne de frango e ratos usados para alimentar 11 leões, um tigre, uma onça parda, corujas e gaviões.

Crédito: Paulo Pampolin/Hype/Folhapress
Leões abrigados no santuário ecológico em Cotia, onde funcionários tentam evitar alimentação com carne

Silvia diz entender que é da natureza de vários animais caçar presas, mas acha que o dilema se justifica pelo fato de os bichos de lá já terem sido retirados do contexto natural. "Eles foram removidos de seu ambiente. Estamos tentando recuperar o que é possível."

Para a veterinária do rancho, Kelly Spitaleti, 35, também vegana, substâncias sintéticas podem fornecer os nutrientes necessários.

O problema é tornar a comida atraente. "Para os leões, por exemplo, podemos adicionar à soja a taurina, aminoácido encontrado na carne e importante para a nutrição do felino. Mas é preciso achar uma textura e um cheiro que façam o bicho sentir vontade de comer."

Segundo Marcos, o custo para produzir a ração é um problema: "Recebemos animais muito doentes, machucados ou acidentados. Uma vez por semana, fazemos testes incorporando soja à dieta dos bichos, mas a prioridade é construir recintos adequados para abrigá-los e cuidar da saúde deles". No último levantamento, o número de acolhidos era 321.

RESGATE

Novos moradores não param de chegar. Em setembro, o rancho vai receber o leão Simba, que vive em um zoológico desativado em Ivinhema (MS) e ficou conhecido por causa de uma campanha de ajuda no Facebook. Ele deve chegar em uma carreta especial para animais de grande porte.

O último resgate aconteceu em janeiro de 2010 e foi da tigresa Yamma, maltratada em um circo de Teresina (PI). "Ela estava muito debilitada. Viveu aqui ao lado do outro tigre, o Bengalinha, mas não resistiu muito e nos deixou em junho", lamenta Silvia.

Além dos felinos, há araras, preguiças, veados, porcos, cães, gatos e a filhote de lontra Fofoquinha, que tomou conta da piscina. "Ela foi trazida pelos bombeiros e, como não há lugar para acolher animais da espécie na região, construímos um lugar na piscina para cuidar dela", diz Marcos.

Para dar conta da bicharada, 12 funcionários dividem o trabalho com a equipe de voluntários, formada por veterinários, biólogos, nutricionista, advogados e contador. O rancho se mantém por doações. São cerca de mil colaboradores, a maioria pessoas físicas, que doam mensalmente no mínimo R$ 15.

O santuário é mantido com dificuldade e a equipe de cuidadores sabe que os animais estariam melhores em seu ambiente natural. "As pessoas precisam entender que o tráfico de animais silvestres e exóticos é crime. Não é raro que os traficantes também sejam envolvidos com a venda de drogas e de armas. Comprar um papagaio é estimular todos esses crimes", afirma a veterinária Kelly Spitaleti.

Para quem pergunta como conseguem sustentar os animais com poucos recursos, Silvia diz que não é à toa que o lugar se chama Rancho dos Gnomos. "Só acreditando no impossível para cumprir nossa missão."

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