Bichos

Talentosos elefantes mostram truques e encantam turistas na Tailândia

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Prathida anda devagar, num doce balanço a caminho do rio. E mantém esse balanço andando na água ou em terra. Passear em cima dela é acompanhar esse doce balançar, que não combina em nada com a sua dura pele de lixa, cravada de pelos gigantes, espetados e esparsos.

Prathida tem o passo lento, como era de se esperar em se tratando de uma elefanta (ou elefoa, ou aliá, dependendo do colégio em que você estudou ou da gramática que guarda na estante).

O maior contato que eu havia tido com um elefante até conhecer Prathida havia sido a observação assombrada e distante num zoológico ou num circo. E o maior afeto por um bicho dessa espécie eu havia dedicado ao Dumbo e ao Jotalhão.


Ainda assim, me esforcei para fazer algo que se parecesse com um carinho naquela casca grossa, para tentar compensá-la por carregar três seres humanos no lombo. Mas Prathida nem deu bola para os meus afagos.

Ela é um dos cerca de 50 animais do Centro Tailandês de Conservação de Elefantes (TECC, na sigla em inglês, já que o teclado não dispõe de caracteres tailandeses), que fica numa região de floresta, a 70 km de Chiang Mai, cidadezinha charmosa no norte da Tailândia e novo foco de turismo no país.

Várias cidades do Sudeste Asiático oferecem passeios que permitem aos pequenos seres humanos interagirem com os grandes seres paquidérmicos de forma amigável: Sen Monorom, no Camboja, Luang Prabang, no Laos, e Ban Ta Klang, também na Tailândia, são algumas opções. O TECC (thailandelephant.org ) se destaca entre eles por ser mantido pelo governo (nesse caso, pelo rei) e por práticas elogiadas pelos defensores dos animais (que costumam repudiar o uso dos bichos no esquema turístico show-passeio).

Além de diversão, o instituto abriga um hospital veterinário e investe em tecnologia. Em 2007, especialistas "produziram" por lá o primeiro elefantinho por inseminação artificial da Ásia.

Elefantes asiáticos são menos orelhudos e menores que seus primos da África: tem até três metros de altura e pesam, em média, três toneladas, contra cerca de seis metros e cinco toneladas dos africanos. Vegetarianos, comem cana-de-açúcar e bambu -aparentemente, não são chegados em amendoim.

Na Tailândia, que tem 2.700 espécimes domesticados, foram historicamente usados para fins de guerra e no papel de tratores na indústria madeireira. Desempregados após a proibição da poda de árvores no país, em 1989, acabaram acolhidos por centros como o TECC, mas ainda são usados para atos ilegais -por exemplo, como auxiliares de mendicância na capital, Bancoc.

O TECC também oferece ao visitante a chance de se internar de um a dez dias no local para aprender os truques de um cornaca (abra o dicionário: tratador de elefantes). A aventura é classificada pelo "Lonely Planet", o guia do viajante "cool" e desencanado, como uma das "20 top experiências" a se fazer no Sudeste Asiático.

Gente com menos disposição para experimentos extremos ou uma convivência tão íntima com o mundo animal pode optar por passeios mais básicos. Esses envolvem um tour na garupa de um elefante (500 bahts, ou R$ 35, por 30 minutos), com direito a atravessar um rio, e a chance de assistir aos bichos tomando banho e dando um show.

A entrada custa 170 bahts (R$ 12) e o show consiste em elefantes fazendo coisas impressionantes para impressionar pessoas que não sabem nada sobre elefantes. Andam de tromba dada, tocam sinos e tambores, esguicham água, empurram troncos, jogam bolinhas em cestos. E pintam, com as trombas, quadros melhores do que muita coisa que se vê por aí. Pintam enquanto fazem suas necessidades, tudo ali, às vistas do público afoito. Os quadros, que já chegaram a ser leiloados por milhares de dólares na renomada Christie's, são vendidos na hora por uma bagatela --de R$ 34 a R$ 68.

O ingresso, infelizmente, não dá direito a ver os seis elefantes brancos do rei Bhumibol, considerados sagrados e mantidos em um estábulo real e exclusivo. Em compensação, o visitante pode conhecer o hospital e a enfermaria para ver lindos bebezões.

Querendo ou não, o ingresso também dá direito a ver o show de turistas sem noção: alguns dão garrafas de Coca-Cola para que os bichos segurem com as trombas enquanto tiram fotos "engraçadinhas". Inteligentes e educados que são, os elefantes não soltam nenhum bramido. Posam para a foto e depois entregam a garrafa para seus cuidadores (que admiram os turistas, chocados, com a melhor cara de: "Buda, perdoe, eles não sabem o que fazem"). É assim que o show acaba.

Na saída do Centro, o ônibus de volta para Chiang Mai passa reto pelo ponto -e por nós, que decidimos apelar para uma carona numa picape tailandesa. A caminhonete anda rápido e pula muito. Sem doce balanço. E com o piso sujo e a casca mais grossa que a pele paquidérmica.

Prathida tem memória de elefante, mas, com certeza, nem se lembra mais de mim. Mas, ali, sacolejando na caçamba ao sol, me dá saudade de Prathida.

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